“Cada um de nós compõe a sua própria história, cada ser carrega em si o dom de ser capaz, de ser feliz” (Canção de Almir Sater).
No período de 23 de abril a 23 de maio de 2025, as Irmãs Daniele Lopes de Souza e Cristiane Götz participaram do curso Revigoramento Franciscano 2025, que aconteceu na cidade de Agudos, São Paulo, Brasil. O curso é parte do roteiro formativo e organizado pela Conferência da Família Franciscana do Brasil (CFFB). Participaram do encontro 42 irmãos e irmãs de 24 congregações e ordens da família franciscana.
Os objetivos do curso de revigoramento franciscano são os seguintes:
- Oferecer às Irmãs e aos Irmãos da Família Franciscana um tempo e um lugar adequados para reexaminar a própria existência em todas as suas dimensões;
- Fazer uma experiência de oração e contemplação à luz da Palavra e das Fontes Franciscanas e Clarianas;
- Refletir sobre o sentido das relações através de uma experiência intercongregacional, com vista a superar a acomodação das estruturas pessoais e interpessoais, com a sua riqueza de proximidade, de diferenças, de partilha e de fé;
- Aprofundar-se em temas com conteúdos que contribuam para o conhecimento teológico franciscano e sua contribuição para a vivência de uma espiritualidade encarnada.
O encontro foi um tempo significativo de encontro pessoal com Deus, consigo mesmo, com os outros e com a criação, através da formação franciscana e da convivência fraterna. Alguns temas abordados são descritos resumidamente a seguir:
A psicologia da Vida consagrada Franciscana: crescimento humano e espiritual: Usando a abordagem da psicossociologia, sistêmica e fenomenológica, o grupo foi convidado e conduzido pelo Fr. Rubens Nunes Mota, OFM Cap, a iniciar uma jornada interior de revisitar as páginas do livro sagrado da história pessoal de cada uma, de cada um, tendo como referência a vocação de Francisco e Clara. A significativa dinâmica da linha do tempo, que teve como motivação inspiracional dois textos do evangelista São Mateus, 13, 24-30;16, 13-19, levou o grupo a perceber o que tem sido joio e trigo na história de vida de cada uma, de cada um.
Ao abordar a teologia da vida religiosa consagrada, Fr. Rubens enfatizou, várias vezes, sobre a beleza do chamado, que é divino, um tesouro guardado em vasos de barro; porém, a resposta a esse chamado é humana; se dá em um tempo e contextos específicos. Nesse processo formativo, que passa por um itinerário do despertar vocacional, da formação inicial ao processo contínuo de formação permanente, a dimensão psicológica e teológica do carisma francisclariana, busca ajudar a religiosa, o religioso a dar uma resposta qualitativa, que possibilite a construção de uma vida fraterna, com relações saudáveis, transparentes, equilibrada permitindo a integração harmoniosa entre o carisma pessoal e institucional.
Esse tema proporcionou dias de muito trabalho pessoal, vivências e celebrações, que ajudaram o grupo a ruminar e aprofundar os temas trabalhados, através de momentos de oração pessoal e das partilhas nas fraternidades, como lugar sagrado onde as pessoas se sentiram acolhidas e confiantes para expressarem os seus sentimentos e emoções. Tudo que começa e termina bem, começa e termina com PAZ E BEM!
Espiritualidade Franciscana: Esse tema foi desenvolvido pelo Frei Vitório Mazzuco, mestre em teologia. A jornada das peregrinas e dos peregrinos da esperança em revigoramento, teve a semana iniciada com uma calorosa celebração do dom de nossas vidas. Em sua fala o Fr. Vitório ressaltou que o curso, via, percurso da Espiritualidade Franciscana é um lugar sempre novo. A sua força fontal e metodológica consiste no núcleo central de sua identidade; uma evidência histórica, uma dimensão interior religiosa do tempo e no tempo. Ela é sempre um confronto (complexidade de atitudes) entre Deus, a pessoa e a realidade. Uma espiritualidade que propõe o caminho do Bem, onde a bondade de Deus é a sua obra. Cada vez que você ama se torna fonte de Deus!
Francisco nos revela a sua relação com Deus com transparência, concretude, vivência. Ele tem um papel singular. Ele é conhecido como amante da Senhora Pobreza, o cantor das belezas criadas, o humano evangélico por excelência, o frade menor, o santo dos passarinhos, das chagas, mas ele mesmo se define como “Servo de Deus” (Carta aos Custódios).
Com Francisco precisamos recuperar a calma do mistério, o “arrepio do sagrado”. Para ele Deus é um silêncio celebrativo. Muitos que perderam o silêncio do sagrado vivem errantes em busca de outras experiências.
Como revitalizar o nosso carisma, a nossa espiritualidade tão atual e tão desejada pelas pessoas do nosso tempo? Nós temos a chave para isso. Ela nos foi dada há oito séculos. Nós temos a graça de sermos os herdeiros deste projeto e o sério empenho de sermos os continuadores. Seguimento enamorado de Deus na contemplação do Mistério da Encarnação, Paixão e Ressurreição do Senhor, que se manifesta no fervor e comprometimento com a vida, na comunhão universal com a igreja, com a casa comum, com todos os nossos irmãos e irmãs em uma fraternidade solidária, simples, amorosa, humilde, alegre e comprometida com o projeto do Deus de Jesus Cristo.
Uma fraternidade universal onde o amor é um modo como Deus revela a transparência de sua potência, de si mesmo e da sua criação; onde ele mostra a capacidade de dar incondicionalmente o seu ser. Vamos sonhar com uma vida que se converta em memória testemunhal da ternura de nosso deus e da força do seu espírito!
Louvado sejas, meu Senhor, por sua presença generosa de PAZ e BEM! Gratidão e amor pela vida consagrada, pela espiritualidade franciscana e pelo povo de Deus. Gratidão por todas as vivências e alegrias que nos proporcionou ao longo destes dias de partilha, sabedoria, dons e talentos.
Ressignificando a nossa Vida Consagrada Franciscana no contexto atual: Esse conteúdo foi dinamizado pelo Fr. Fidêncio Vannboemmel, OFM. Olhar o passado com GRATIDÃO. Para introduzir-nos à nossa temática – “Ressignificando a nossa vida consagrada franciscana no contexto atual” – devemos ter presente a orientação dada pela Igreja para toda a Vida Consagrada, particularmente os passos dos anos subsequentes ao Concílio do Vaticano II. A vida consagrada, no seu todo, passou por profundas transformações, renovação e busca de uma purificação acerca da sua própria identidade e missão na Igreja e sua respectiva inserção no mundo.
No mesmo dinamismo, também a vida consagrada franciscana buscou a sua ressignificação, seguindo as orientações e os passos da Igreja para uma prática concreta da vida religiosa franciscana, baseada na espiritualidade e no carisma específico, num contexto social e cultural em constante e acelerada mudança. Fundamental foi para nós, franciscanos e franciscanas, a descoberta e o encontro com os valores e os princípios das Fontes Franciscanas e Clarianas.
Viver o presente com PAIXÃO. Nos nossos dias a “ressignificação” se faz necessária para fazermos uma releitura da nossa vida religiosa franciscana na Igreja e na sociedade, buscando novos caminhos para sua missão evangelizadora.
Hoje não podemos esquecer as eloquentes interpelações do Papa Francisco acerca da nossa missão Franciscana na Igreja e no mundo: ser fraternos e testemunhas da fraternidade (Fratelli tutti); ser “irmãos e irmãs do povo”; ser solidários com os pobres; viver a minoridade e a humildade, é “ir pelo mundo em fraternidade e minoridade”; dialogar com todos.
Abraçar o futuro com ESPERANÇA. Ressignificar é encontrar um novo sentido para os desafios da caminhada, é iluminar, a vida com a força transformadora da Palavra de Deus, que faz nova todas as coisas; é testemunhar essa alegria que vem do evangelho, com fé, esperança e renovado ardor missionário. Foi este caminho que Frei Fidêncio fez conosco ao longo destes dias, partilhando sua sabedoria e sua rica experiência e ele o fez com muita simplicidade, escuta atenta e, acima de tudo, com seu exemplo de vida, com um coração generoso que emana muita PAZ e todo BEM. Por tudo isso, Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas!
Itinerário Contemplativo para Deus Segundo São Boaventura: a Ir. Salete Dal’Mago, CIFA aprofundou esse tema com os participantes. “Reaviva o dom de Deus que está em você” (2 Tim 6). Prestar atenção aos movimentos de Deus. Itinerário, momento profundo de fazer uma síntese diante de Deus de tudo o que cada uma, cada um vivenciou neste tempo. É importante prestar atenção sobre o movimento de Deus dentro de você, é fazer um caminho, um itinerário que leve ao encontro consigo mesmo com Deus e com a coirmã ou confrade. Para Boaventura, a contemplação é fruto de um caminho, de um itinerário, de um processo e, acima de tudo, de um desejo profundo de encontro com Deus. Por isso somos convidados com fé e muita esperança a “reavivar o dom de Deus que está em você”, através da experiência contemplativa do Itinerário.
No seu Itinerário, Boaventura constrói, de forma especial, o caminho para a verdadeira sabedoria (Deus) em quatro etapas:
Conhecimento em Deus das coisas criadas.
• Intuição das realidades divinas (distinguidas das ciências naturais). Conhecimento do próprio Deus.
• União mística com Deus conhecida na experiência.
Desejar a graça da oração. Com essas palavras de encorajamento e muita fé o revigoramento nos ajudou a “armar tendas” na quietude interior e dispor o coração a um fervoroso desejo de procura do Amado; acolhendo o dom de Deus que se encarna em Jesus de Nazaré, na contemplação da beleza dos vestígios de Deus na criação, na beleza do amor Trinitário de Deus que se faz presente nas relações da vida em fraternidade.
Contemplação: um itinerário para Deus. Todas as vivencias durante o tempo do revigoramento foram muito bem conduzidas e possibilitou a contemplar e experienciar “Aquele que nos amou e se entregou por nós”, através das celebrações das Eucarísticas, dos momentos de contemplação dos vestígios e beleza de Deus presentes na natureza, na adoração ao Santíssimo Sacramento, no terço missionário, nos momentos celebrativos da liturgia das horas, na oportunidade do sacramento da confissão, no Cântico das Criaturas de São Francisco, nas partilhas dos grupos de vivência.
Deus é bom todo tempo. Frase vivencial: esse itinerário contemplativo se encontra em Deus, segundo São Boaventura.
Contribuição: Irmã Daniele Lopes de Souza

