“Não podemos explicar, não podemos dar razões para o que simplesmente não tem razão de ser.”
Só o silêncio de Maria ao pé da Cruz, a comunhão com a sua desolação maternal, e o peso da confusão perante o incompreensível, consegue fazer girar o nervosismo dos nossos olhares e a súplica incessante… Meu Deus, meu Deus, o que está acontecendo? Quando essa violência entrou em nossas aldeias?
Depois de sentir na pele a dor dos dolorosos acontecimentos em África, este continente amado por tantos missionários de todo o mundo, surgem essas perguntas, os suspiros de perplexidade nos invadem ao ouvir esta notícia… mas nunca a ideia de abandono. Somos mensageiras da esperança onde estamos e onde fomos enviadas com um único objetivo… sermos testemunhas da Ressurreição de Cristo.
O Evangelho traduzido em nossa espiritualidade franciscana nos impulsiona todos os dias a humanizar as pessoas, a fazê-las crescer em dignidade, em qualidade de vida, em autonomia e para isso devem encontrar em nós um rosto iluminado pela fé em Jesus Cristo, na Vida Nova que Ele nos comunica na Sua Palavra todos os dias…
O medo é uma sensação que nos envolve e que às vezes entra em nós, porém são sensações momentâneas, que morrem diante do pobre que bate à nossa porta, diante do sedento ou nu, diante do triste e deslocado pelo os múltiplos conflitos econômicos, políticos e sociais que levaram a situações atrozes como os violentos ataques contra os missionários nos últimos meses.
Diante do que nunca deveria ter acontecido, surge um grande desafio e é “Como mostrar caminhos de amor verdadeiro, amor fraterno, amor de comunhão onde todos se sintam irmãos e possam reconstruir a grande família humana?” e sempre nos ocorre percepções, há quem acaba dando o primeiro ponto e é aí que todos nós ficamos presos. Damos sempre um jeito de dar sentido a estas “perdas irreparáveis” para ir mais longe e fazer perdurar no tempo e no espaço onde cumpriram a sua missão a mensagem de vida daqueles que partiram em tão cruéis circunstâncias.
E há pessoas sofrendo ao seu redor que protestam silenciosamente contra esses atos; que sofre e chora pela dor do inexplicável, por ver partir aqueles que lhe deram esperança e vida…
Ninguém fala em partir, pelo amor de Deus! Nem mesmo nas piores circunstâncias! Já experimentamos tanta dor, a Igreja foi confrontada com tantos golpes sangrentos, os habitantes de nossas aldeias veem seus filhos, seus pais, seus cônjuges. .. Cristãos, muçulmanos, todos irmãos, sofrem a dor dos conflitos armados… As autoridades civis, a Igreja, a Vida Consagrada são vítimas de sequestros e mortes… Mas confiamos num Deus Criador e Misericordioso que nos ama nunca morre e sofre com a dor que os seres humanos impõem uns aos outros. Ali é justamente o lugar do missionário… traduzir na sua língua local, na língua de cada coração que a morte não tem a última palavra. Mas a Vida!
E aí nós missionários(as) chegamos… criando espaços de vida, semeando esperança mesmo quando nos atingem. Continuamos à espera dos raptados e desaparecidos… há tanto por fazer, tanto por percorrer… temos vontade de os ajudar a melhorar as suas condições de vida, mandar os filhos para a escola, criar poços de água para que possam possam cultivar e colher seus grãos, educar e formar as novas gerações… Temos que continuar cumprindo a missão para a qual fomos chamados… DAR VIDA e DAR VIDA!